Crítica do jogo Tomb Raider (2013) Parte I


A nossa pequena Lara


Como é apresentada, desde criança, Lara foi incentivada por seus pais a participar de pequenas expedições. Com as suas aventuras infantis acabou conhecendo seu mentor, fiel amigo, pai e protetor Roth que sempre a tratou como sua filha, definindo, em grande parte, a forma de ser, agir e pensar. Mesmo com a ausência dos seus pais biológicos em sua infância, pela vida de aventureiros que levavam, Lara tem muita consideração por ambos e é por seus entes queridos que ela aceita e embarca em aventuras, sem hesitar!

Mas, anteriormente, Winston era quem cuidava dela, como o fiel mordomo de Tomb Raider – um senhor de nacionalidade irlandesa, condecorado por servir na II Guerra Mundial – e que, na época, foi como um grande pai para a heroína. Ambos moravam na icônica Mansão Croft e apesar de ser gigantesca, não houve distanciamento entre eles que corriqueiramente mergulhavam em suas próprias aventuras enquanto sua riquíssima família esteve ausente.


Game Start

A aventura realmente começa com um navio se partindo ao meio: uma cena apresentada nesta nova versão de Tomb Raider, porque esta é a ideia de todo reboot: criar uma lacuna entre algo velho e ultrapassado para uma definição nova, mas que já possui renome e precisa ser reaproveitada. Tomb Raider foi lançado em 2013, produzido pela Crystal Dinamics e Feral Interactive e publicado pela Square Enix. Apresentando uma Lara Croft com conceitos novos e atuais:
  1.  Personagem mais humana, com maiores traços gráficos, melhor aparência e detalhes em seu modelo tridimensional. O que representa uma evolução de sua modelagem, se comparado aos gráficos de seus jogos anteriores, onde tínhamos mais polígonos e menos expressões corporais e faciais.
  2.  Uma garota inteligente, forte e, perceptivelmente, mais próxima de seu lado aventureiro feminino.
  3. Roupagem diferente daquela bem conhecida pelos seus fãs. Agora, temos uma Croft com roupas convencionais e que qualquer um sairia andando por aí. Eu destaco suas ferramentas, que se pode dizer, de trabalho: antes vista, frequentemente, com duas pistolas. Mas, nessa versão está usando como arma principal outra dupla dinâmica: o arco e flecha.
  4. Roteiro enigmático, dramático, com novidades e conceitos sobrenaturais.  O que, por vezes, desestimula àqueles jogadores que pretendem jogar sabendo por qual motivo estão gastando o seu tempo. Mas, com desfecho, que apesar de coesivo, é esperado.
  5.  Personagens inéditos: Conrad Roth, Samantha Nishimura, Joslin Reyes, Jonah Maiava, Alex Weiss e Angus Grimaldi que nessa versão estão ao lado da heroína e não medem esforços para ajudá-la.
  6.  Este roteiro se passa na ilha de Yamatai – que, na verdade pode ser associado à palavra Yamato que representou a principal etnia nativa do Japão Antigo – e por interesse próprio Lara Croft vai até esta ilha, sendo que a sua aventura começa por lá.

 “Lara Croft 2013”


Apesar de já conhecermos o repertório de Lara, aqui é apresentado um lado mais de sobrevivência: em todo o jogo, ela irá brigar com unhas e dentes para se manter viva. Após estar presa em Yamatai, Lara precisa coletar fragmentos espalhados pelo extenso cenário para dar upgrades em seus equipamentos que vão desde suas habilidades de combate e aquisição de outros tipos de roupa, sendo só possível depois de repousar em alguma fogueira, além, é claro, de seus extintos. Cada um dos exemplos citados aperfeiçoam a forma que ela enfrenta seus inimigos e desvenda (como o lendário e nostálgico Indiana Jones) casos sinistros e sem solução do lugar. 

Lara irá enfrentar outras pessoas que também estão presas na ilha e que, após algum tempo de jogo, é descoberto que fazem parte da irmandade, The Solarii Brotherhood, que venera Himiko, A Deusa do Sol. Seus inimigos são bem armados e seguem a um líder: Mathias.

"Do you think you're the hero, Lara? Everything I've done, I've done to survive! How many lives have you taken to do the same? There are no heroes here; only survivors!" (Você acredita que é uma heroína, Lara? Tudo que tenho feito, fiz para sobreviver. Quantas vidas tirou para fazer a mesma coisa? Não existem heróis, apenas sobreviventes!) - Mathias

No fim, fica subentendido que todos ali são sobreviventes. Tantos os heróis, quanto os vilões estão subordinados à Himiko, porque seu maior poder é controlar o tempo, assim, mesmo que os inimigos se unam, a Deusa provocará grandes tempestades, impedindo que saiam de lá. Com direito a ondas de tamanho inimagináveis, trovões e relâmpagos de tirarem o “coro”, ventos a velocidades fora do comum etc. Ou seja, é impossível sair daquele território, pois o desejo de Himiko deve ser cumprido (voltar à vida) e só sendo um Croft ou a Lara Croft para deter esse grande mau. 

The Solarii Brotherhood: Inspirações solares


Os solarii são, em sua maioria, formados pelo Padre Mathias e seus quatro irmãos Vlad, Borris, Nikolai e Dmitri, assim eles e todo o resto da irmandade são subordinados a outra figura, Vladimir. Todos na ilha agem como sobreviventes e enquanto uns tentam fugir, no que diz respeito aos sobreviventes do naufrágio do Endurance, outros querem a todo custo sair de lá também, só que de um jeito bem mais radical que são os membros da irmandade.

Para confrontá-los, Lara Croft utiliza, principalmente, o arco e flecha, a primeira arma lhe apresentada durante a campanha. Ao avançar, o jogador descobre que é possível fazer malabarismos com ele, como prender a flecha em partes de madeiras cobertas por tecidos traçados brancos e arrancá-las à mão, o que é compreensível, porque o lugar onde estão é muito antigo e tudo ao seu redor também, sendo muito provável que a madeira das construções de lá já devam estar podres ou estragadas.

Por falar em armas, aqui não pode faltar um dos ícones mais importantes do reboot: o machado de alpinismo e toda aquela representação cinematográfica de Lara pulando de uma ponta a outra do cenário, em câmera lenta, pendurando-se com ele. Com o mais puro realismo e tensão, recurso usado exageradamente neste jogo. Vamos ter a beça muitas escaladas com o machadinho, com direito à tirolesa também, machado este que pode ser usado como arma de mão contra os Solarii e que após melhoramentos, torna-se em ataques brutais.

We don’t need no more trouble



Mesmo que esse jogo seja um recomeço para a heroica Tomb Raider, a ilha em que está disposta a desbravar também funciona como um grande personagem de toda a obra. Repleta de mistérios e segredos, Yamatai esconde o fascínio dos Solarii em vangloriar A Deusa do Sol Himiko. Vemos um mapa gigantesco, cheio de localizações diferentes como florestas densas e cheias de vegetação a cenários mais desérticos, onde há muito vento circulando e bastante areia ao redor.

A história da ilha é contada com registros da II guerra mundial, principalmente, com o conflito histórico entre o Japão e Estados Unidos da América, além do interesse deles de controlar o poder da deusa para fins militares. Mathias foi mais uma vítima assim como Roth, Lara e os tripulantes do Endurance, quando foi pego de surpresa após seu avião ser derrubado por uma tempestade provocada, obviamente, por Himiko e, após várias tentativas de sair da mal-assombrada ilha, ele não obteve sucesso, assim, infelizmente, ele desistiu de tudo, tornando-se um discípulo desta entidade (um verdadeiro espírito de vingança de suas ambições). Uma atitude que deturpou sua mente e valores morais, fazendo-o tomar decisões extremas para agradar a deusa e não ser morto também, por ela.

Quem és tu, Himiko?


No século II D.C., houve uma grande guerra no Japão Antigo que virou também um dos escritos mais documentados em sua longínqua história, como principal motivo a sua política patriarcal existente, por cerca de 80 anos. Mas, como é contada a história, o povo, insatisfeito por tais decisões, aceitou eleger uma mulher para ocupar a posição de sua Rainha e essa representante era Himiko. Ou seja, ela foi a rainha do império conhecido como Yamatai e como é contado pelo Wei Zhi, um dos textos históricos das dinastias, este império foi o melhor do que os anteriores, pois após a sua ascensão, os trinta chefes de pequenas tribos locais se aliaram para que fosse formado o estado confederado chamado Yamatai, comandado pela atual imperatriz.

Himiko na cultura gamer


Já para o nosso lado, a história de Lara Croft começa com o naufrágio do navio Endurance na maldita ilha de Yamatai. A protagonista e seu grupo de amigos pretendem desvendar os segredos por trás do mito criado em torno de Himiko e que, na verdade, há um debate ainda entre os historiadores sobre a exata localização desse lugar e a Square Enix aproveita isso para dar o ponto de gatilho para a versão de sua história.
E mesmo a Square Enix fazendo Lara Croft passar por contextos extremos e perigosos, ela absorve as situações tão rápido que se torna estranho de onde aprendeu todas as técnicas de sobrevivência, mas como a palavra já diz: o nosso extinto de sobrevivência nos faz agir de forma inesperada! Porém, não seria mais conveniente e compreensível se ela tivesse um novo mentor?

Observar não faz mal a ninguém...

Só que ele está nessa aventura! Falo do seu coadjuvante mais importante: Conrad Roth.


Seu histórico traz especialidade em alpinismo e a busca por navios naufragados. Depois de servir ao Royal Marine Commandos ou RMC, ele se dedicou a outras atividades como caçador de tesouros e relíquias - o que me parece até nos lugares mais remotos do mundo. Por ter seu jeito próprio de pesquisa e busca de objetos antigos, era visto como alguém que restringia (fica a dúvida) toda a burocracia a respeito desses itens colecionáveis. Porém, com sua competência e compromisso, ele adquiriu credibilidade e interesse de milionários colecionadores, incluindo os pais de Lara Croft. Fato, infelizmente, pouco abordado na campanha de Tomb Raider.

Se houvesse essa explicação na parte principal de Tomb Raider, haveria mais sentido passar horas e mais horas jogando, para ver um desfecho que certamente seria mais interessante. O que não acontece, porque fica a deixa de que seu roteiro é desorganizado e somente nos momentos finais há a compreensão de toda a narração. Mas isto é só uma parte do jogo e não chega a repercutir totalmente no resultado final.

Enfim



Eu acho uma valorosa evolução gráfica da personagem Lara Croft, em sua mais recente repaginada. Como os gráficos que melhoraram, substancialmente, e a opção de edição dos desenvolvedores em colocar no reboot o arco e flecha, como as suas principais armas mesmo que no final da história ela acabe usando-as e voltando, bem aparente, às suas origens. 

Além do nível de detalhes nos cenários, personagens secundários e principais ser absurdamente real e que, com certeza, chamam a atenção de quem joga o título. Como o efeito da água, da sujeira impregnada na pele esbelta de Lara ou nos objetos do cenário, expressões de dor e sangue tiradas em certas cenas e a nossa percepção de que a ilha, realmente, é antiga, devido às texturas postas nos objetos que compõem o cenário etc. 

Notei que a trilha sonora é imersiva e está constante: às vezes permanece baixa, deixando aquele tom de silêncio e mistério no ar, quando se descobre algo explicativo sobre a narração do jogo e em outros momentos está mais alta, combinando com as cenas de ação e tensão desenroladas na aventura, gradualmente, construída até o seu clímax e desfecho compreensível (e que deixa a brecha para uma continuação, como veremos na crítica seguinte, através do segundo título já lançado).

Enfim, Lara Croft vale a pena ser jogado, por todas as razões já mostradas nessa crítica e por um extra: ser feito em um mundo aberto – a ilha de Yamatai que poderá ser explorada, logo depois de zerar a companha principal. Como eu mesmo estou fazendo agora...

Galera, um grande abraço a todos e até mais! 

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